1. (Upe-ssa 1 2022) Texto 1


O povo, Doroteu, é como as moscas,
Que correm ao lugar, aonde sentem
O derramado mel; é similhante
Aos corvos, e aos abutres, que se ajuntam
Nos ermos, onde fede a carne podre.
À vista pois dos fatos que executa
O nosso grande Chefe, decisivos
Da piedade, que finge, a louca gente
De toda a parte corre a ver, se encontra
Algum pequeno alívio à sombra dele.

GONZAGA, Tomás Antônio. Cartas Chilenas. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 53.

Texto 2

Com base na leitura dos Textos 1 e 2, e tendo em vista as características da obra “Cartas Chilenas”, de Tomás Antônio Gonzaga, bem como a importância das funções da linguagem na análise de textos literários e não literários, assinale a alternativa CORRETA.

a) A poesia satírica foi utilizada no Arcadismo para representar a crítica social ao povo brasileiro, como se pode notar na obra “Cartas Chilenas”, composta por sonetos, com metrificação igual à da epopeia camoniana.   

b) O Texto 1 retoma o narrador Doroteu da obra “Cartas Chilenas” e destaca a função metalinguística da linguagem na construção da sátira social.   

c) O Texto 1 apresenta Doroteu, destinatário das cartas escritas por Critilo, personagens importantes na organização da obra “Cartas Chilenas”, a qual se destaca no Arcadismo brasileiro pelo tom satírico de crítica social.   

d) Ao explorar a sátira e o tom humorístico, a obra “Cartas Chilenas” inaugura a poesia satírica no Brasil, priorizando temas, como: bucolismo, abusos de poder, corrupção, cobrança de altos impostos, como se nota nos Textos 1 e 2.   

e) Com destaque para o seu valor histórico e documental, o Texto 1 prioriza a função referencial da linguagem, quando mostra a comparação entre o “povo” e as “moscas”, evidenciando relação harmônica entre o povo e o governo.   

2. (Ufpr 2022) O fragmento abaixo é parte do segundo canto de “O Uraguai”, poema épico de Basílio da Gama publicado em 1769.


Eu, desarmado e só, buscar-te venho.
Tanto espero de ti. E enquanto as armas
Dão lugar à razão, senhor, vejamos
Se se pode salvar a vida e o sangue
De tantos desgraçados. Muito tempo
Pode ainda tardar-nos o recurso
Com o largo oceano de permeio,
Em que os suspiros dos vexados povos
Perdem o alento. O dilatar-se a entrega
Está nas nossas mãos, até que um dia
Informados os reis nos restituam
A doce antiga paz. Se o rei de Espanha
Ao teu rei quer dar terras com mão larga
Que lhe dê Buenos Aires, e Correntes
E outras, que tem por estes vastos climas;
Porém não pode dar-lhes os nossos povos.

(Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/uraguai.pdf.)

A respeito desse poema, considere as seguintes afirmativas:

1. Atendendo as regras de composição da epopeia clássica, Basílio da Gama inspirou-se num fato histórico acontecido séculos antes da escrita e narrou-o em versos metrificados e rimados.

2. Em vez de dar voz a um pastor, como é frequente na poesia do Arcadismo, o poeta deu voz a líderes militares portugueses e aos indígenas que habitavam a região dos Sete Povos das Missões.

3. Como elementos de nativismo, aparecem as personagens Cacambo, guerreiro capaz de argumentar sobre o direito dos povos indígenas à terra, e a feiticeira Tanajura, que representa o aspecto mítico da cultura desses povos.

4. Abalada pela morte de Cacambo e auxiliada por Tanajura, Lindoia tem um sonho no qual vê com detalhes a destruição dos Sete Povos das Missões, em consequência da expulsão dos jesuítas do Brasil.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.   

b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.   

c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.   

d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.   

e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.   

3. (Ufms 2022) Leia atentamente o poema a seguir:

“Lira XIX”


Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia Natureza.
(...)
Repara como, cheia de ternura,
Entre as asas ao filho essa ave aquenta,
Como aquela esgravata a terra dura,
E os seus assim sustenta;
Como se encoleriza,
E salta sem receio a todo o vulto,
Que junto dele pisa.

Que gosto não terá a esposa amante,
Quando der ao filhinho o peito brando
E refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
Disser consigo: “É esta
Do teu querido pai a mesma barba,
A mesma boca e testa.”

Que prazer não terão os pais, ao verem
Com as mães um dos filhos abraçados;
Jogar outros à luta, outros correrem
Nos cordeiros montados!
Que estado de ventura:
Que até naquilo, que de peso serve,
Inspira Amor doçura!

GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas. Ed. crít. M. Rodrigues Lapa. São Paulo: Ed. Nacional, 1942. Livros do Brasil, 5)

Delimitando sua atenção na primeira e na terceira estrofes do poema transcrito acima, aponte a alternativa correta.

a) Nessas estrofes estão claras as características do Arcadismo, como a paixão desenfreada, a vida urbana agitada e a sensualidade.   

b) As duas estrofes apresentam características do Arcadismo, como vida contemplativa, reconhecimento dos bons atributos da Natureza e amor entre duas pessoas, sem ignorar a sensualidade, como no binômio “esposa-amante”.   

c) As duas estrofes representam apenas os devaneios da mãe orgulhosa ao ver que o filho se parece com o pai, o amante distante.   

d) As duas estrofes contêm sentido oposto, uma vez que, na primeira estrofe, o eu do poema (eu lírico) convida sua amada para a contemplação reflexiva sobre a Vida e a Natureza e, na terceira, apenas exalta os prazeres amorosos e o desejo da mãe.   

e) As duas estrofes contêm sentidos complementares, uma vez que a alegria do gado diante da natureza exuberante se reflete no semblante do poeta ao ver sua imagem refletida no rosto de seus futuros filhos.   

4. (Uscs - Medicina 2022) A natureza virou refúgio (“locus amoenus”) para o poeta-pastor das culturas urbanas. Todas as tensões deveriam ser amaneiradas, para que ele pudesse fundir-se na paisagem campestre observada, para integrar-se em sua naturalidade. Nada aí seria excepcional e teria a singeleza dos acontecimentos comuns.

(Benjamin Abdala Junior e Samira Youssef Campedelli. Tempos da literatura brasileira, 1997. Adaptado.)

O texto refere-se ao poeta

a) romântico.   

b) árcade.   

c) barroco.   

d) naturalista.   

e) simbolista.   

5. (Pucgo Medicina 2022) Leia o fragmento do texto Um olhar para o futuro, de Luiz Roncari:

A passagem do século XVII para o seguinte, na Europa, representou uma mudança muito grande de mentalidade e cosmovisão; quer dizer, em muitos aspectos o homem abandonou uma visão religiosa do mundo e da vida e adotou uma perspectiva mais terrena para a busca do conhecimento e orientação dos seus esforços. Todos os ganhos do pensamento filosófico do século XVII [...], à medida que foram sendo discutidos, refutados, aceitos, reproduzidos e vulgarizados, foram sendo difundidos e assimilados pelo homem comum, interferindo na sua forma de ver o mundo.

(RONCARI, L. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos. 2. ed. São Paulo: Edusp/FDE, 1995, p. 180-181.)

Sobre a lírica produzida e autores árcades brasileiros, analise as proposições a seguir:

I. Os escritores árcades mineiros tiveram participação direta no movimento da Inconfidência Mineira.

II. As obras desvinculam-se da estética arcádica, escola na qual os poetas estavam inseridos.

III. Os poetas árcades procuravam obedecer apenas aos princípios estabelecidos pelas academias literárias portuguesas.

Assinale a única alternativa correta sobre a lírica produzida e autores árcades brasileiros:

a) I apenas.   

b) I e II apenas.   

c) II apenas.   

d) I e III apenas.   

6. (Upe-ssa 1 2022) Texto 1


Quem deixa o trato pastoril, amado,
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.
Que bem é ver nos campos, trasladado
No gênio do Pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado.
Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre:
Um só trata a mentira, outro a verdade.
[...]
COSTA, Cláudio Manuel da. Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa. Excertos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000040.pdf> Acesso em: 05 jul. 2021.


Texto 2


Sou Pastor; não te nego; os meus montados
São esses, que aí vês; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados;

Ali me ouvem os troncos namorados,
Em que se transformou a antiga gente;
Qualquer deles o seu estrago sente;
Como eu sinto também os meus cuidados.
[...]

COSTA, Cláudio Manuel da. Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa. Excertos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000040.pdf> Acesso em: 05 jul. 2021.

 

Texto 3


Enquanto pasta, alegre, o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.

Um pouco meditemos

Na regular beleza,

Que em tudo quanto vive, nos descobre
                  A sábia Natureza.

GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: DCL, 2010. Excertos.

Texto 4

 

Com base na leitura dos Textos 1, 2, 3 e 4, e considerando as características do Arcadismo no Brasil, assinale a alternativa CORRETA.

a) O Arcadismo retomou temas conflituosos do Classicismo, conforme ilustra o Texto 1, o qual apresenta linguagem rebuscada na representação do “fugere urbem” (“fugir da cidade”) e do conflito existencial do eu lírico quanto às antíteses pobreza e riqueza, representativas das imagens campo e cidade, respectivamente.   

b) Os Textos 2 e 3 exploram a temática do “carpe diem” (“aproveitar o dia”) na representação de imagens bucólicas da natureza e da figura feminina, por meio do Cultismo e do Conceptismo, marcantes na poesia árcade brasileira.   

c) Os Textos 1, 2, 3 e 4 dialogam na representação do “locus amoenus” (“lugar ameno”), do “carpe diem” (“aproveitar o dia”) e do “inutilia truncat” (“cortar as inutilidades”), na imagem da natureza como local mítico, calmo e inatingível.   

d) A natureza apresenta-se como local calmo e sereno, onde os pastores e as suas musas inspiradoras desfrutam da tranquilidade da vida no campo, conforme se nota nos Textos 3 e 4.   

e) Os Textos 1, 2 e 3 são exemplos da poesia árcade conceptista e neoclássica, com linguagem figurada composta por antíteses e hipérbatos na representação da natureza bucólica como espaço utópico.   

7. (Unioeste 2022) No que concerne ao poema “Eu, Marilia, não sou algum vaqueiro”, é INCORRETO afirmar.

a) Trata-se de uma lira, composição que apresenta versos de duas medidas, isométricos, acompanhados ou não de estribilho ou bordão.   

b) O contexto histórico do Arcadismo está associado ao fim da escravidão, em 1888, e à Proclamação da República, em 1889.   

c) Tanto Marília, quanto Dirceu são pseudônimos árcades de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas e Tomás Antônio Gonzaga.   

d) No poema em foco nota-se a preposição “de” que estabelece uma relação de posse do eu-lírico em relação ao objeto de amor, Marília.   

e) No poema referido somente Dirceu fala, e fala muito sobre seus próprios dotes de beleza física, habilidades e poderio econômico.   

8. (Ufjf-pism 3 2021) Soneto XLVI

Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)


Não vês, Lise, brincar esse menino
Com aquela avezinha? Estende o braço,
Deixa-a fugir, mas apertando o laço,
A condena outra vez ao seu destino.
Nessa mesma figura, eu imagino,
Tens minha liberdade, pois ao passo
Que cuido que estou livre do embaraço,
Então me prende mais meu desatino.

Em um contínuo giro o pensamento
Tanto a precipitar-me se encaminha,
Que não vejo onde pare o meu tormento.

Mas fora menos mal esta ânsia minha,
Se me faltasse a mim o entendimento,
Como falta a razão a esta avezinha.

COSTA, Cláudio Manoel da. Poemas. São Paulo : Editora Cultrix, 1966, p. 21)

O poema de Claudio Manuel da Costa, expoente do Arcadismo brasileiro, tem como efeito de sentido um tom de:

a) resignação.   

b) ressentimento.   

c) consternação.   

d) letargia.   

e) lamento.   

9. (Albert Einstein - Medicina 2021) O Classicismo considerava o poeta como servidor da obra, elaborada segundo regras eternas e destinada a certos fins de ordem moral e catártica. Este novo movimento tende a se importar mais com a autoexpressão da subjetividade do poeta. A verdade poética não é mais obtida pela “imitação da natureza” e sim pela “sinceridade” e “autenticidade” da autoexpressão. A obra, antes válida enquanto objeto perfeito, vale agora sobretudo enquanto revelação da verdade íntima do criador. A “perfeição” é nociva na medida em que suprime a sinceridade e a espontaneidade.

(Anatol Rosenfeld. Texto/Contexto I, 1996. Adaptado.)

O novo movimento a que o texto se refere é o

a) Parnasianismo.   

b) Arcadismo.   

c) Naturalismo.   

d) Simbolismo.   

e) Romantismo.   

10. (Unesp 2021) 

A obra Prisão de Tiradentes (datada de 1914), do pintor brasileiro Antônio Parreiras (1860-1937), remete a evento histórico relacionado ao seguinte movimento literário brasileiro:

a) Barroco.   

b) Arcadismo.   

c) Romantismo.   

d) Realismo.   

e) Modernismo.   

11. (Unifesp 2020) O lema do carpe diem sintetiza expressivamente o motivo de se aproveitar o presente, já que o futuro é incerto. Tal lema manifesta-se mais explicitamente nos seguintes versos de Tomás Antônio Gonzaga:

a) Ah! socorre, Amor, socorre

Ao mais grato empenho meu!

Voa sobre os Astros, voa,

Traze-me as tintas do Céu.

b) Depois que represento

Por largo espaço a imagem de um defunto,

Movo os membros, suspiro,

E onde estou pergunto.

c) É bom, minha Marília, é bom ser dono

De um rebanho, que cubra monte e prado;

Porém, gentil pastora, o teu agrado

Vale mais que um rebanho, e mais que um trono.

d) Se algum dia me vires desta sorte,

Vê que assim me não pôs a mão dos anos:

Os trabalhos, Marília, os sentimentos

Fazem os mesmos danos.

e) Ah! enquanto os Destinos impiedosos

Não voltam contra nós a face irada,

Façamos, sim, façamos, doce amada,

Os nossos breves dias mais ditosos.

12. (Cftmg 2020)


Tu não verás, Marília, cem cativos
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da minada Serra.

Não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia,
e já brilharem os granetes de ouro
no fundo da bateia.

Não verás derrubar os virgens matos,
queimar as capoeiras inda novas,
servir de adubo à terra a fértil cinza,
lançar os grãos nas covas.

Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo;
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.

Verás em cima da espaçosa mesa
altos volumes de enredados feitos;
ver-me-ás folhear os grandes livros
e decidir os pleitos.

Enquanto revolver os meus Consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia, mestra História,
e os cantos da Poesia.

Lerás em alta voz, a imagem bela;
Eu, vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.

Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
Que tens quem leve à mais remota idade
A tua formosura.

Tomás Antônio Gonzaga - Lira III
Disponível em: 100 poemas essenciais da Língua Portuguesa (org. Carlos Figueiredo)

Vocabulário de apoio:

Granete: pequeno grão; pequena quantidade de metal
Bateia: gamela afunilada de madeira onde se lavam minérios
Fasto: magnificência; pompa.

É característica do Arcadismo, observada no poema, a

a) opção pela linguagem rebuscada como expressão.    

b) apresentação da mulher amada como vocativo.    

c) escolha pela Arcádia como cenário.    

d) indecisão do pastor como eu lírico.    

13. (Unesp 2020) Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder à questão a seguir.


Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado,
E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!

(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

No soneto, o eu lírico expressa um sentimento de inadequação que, a seu turno, se faz presente na seguinte citação:

a) “A independência, não obstante a forma em que se desenrolou, constituiu a primeira grande revolução social que se operou no Brasil.” (Florestan Fernandes. A revolução burguesa no Brasil.)   

b) “Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’. Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo.” (Caio Prado Júnior. Formação do Brasil contemporâneo.)    

c) “A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa. A descoberta das terras americanas é, basicamente, um episódio dessa obra ingente. De início pareceu ser episódio secundário. E na verdade o foi para os portugueses durante todo um meio século.” (Celso Furtado. Formação econômica do Brasil.)   

d) “Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.” (Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil.)    

e) “A formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes como nos seus defeitos, menos em termos de ‘raça’ e de ‘religião’ do que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organização da família, que foi aqui a unidade colonizadora.” (Gilberto Freyre. Casa-grande e senzala.)    

14. (Cftmg 2019) Madrigal XLIII

 

Suspiros já cansados,

Repousai por um pouco entre estas flores:

Glaura virá e os cândidos Amores

A gozar a beleza destes prados.

Cai a sombra dos montes elevados:

Abranda o loiro Sol os seus ardores:

A flauta dos Pastores

Respira alegre em ecos alternados.

Suspiros já cansados

Co’as minhas tristes dores,

Repousai por um pouco entre as flores.

ALVARENGA, Manuel I. S. Glaura: poemas eróticos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 287.

Sobre o poema, afirma-se:

I. O texto recupera o locus amoenus, tópos do ambiente aprazível para o interlúdio amoroso.

II. A forma composicional do gênero madrigal rompe com os paradigmas árcades, imprimindo liberdade formal à construção poética.

III. A cena poética acompanha em gradação o entardecer, num cenário povoado por elementos tradicionais da estética neoclássica.

IV. O poema marca a tensão entre campo e cidade, criticando o modo de vida nos centros urbanos.

Estão corretas apenas as afirmativas

a) I e II.    

b) I e III.    

c) II e IV.    

d) III e IV.    

15. (Espm 2019) Considere os textos que seguem.


Eu tenho um coração maior que o mundo,

tu, formosa Marília, bem o sabes;

um coração, e basta,

onde tu mesma cabes.

(Tomás Antônio Gonzaga, Marília de Dirceu)

 

Não, meu coração não é maior que o mundo.

É muito menor.

Nele não cabem sequer as minhas dores.

(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo)

Assinale a afirmação correta sobre os dois textos: 

a) Por pertencer à fase heroica ou iconoclas­ta do Modernismo, Carlos Drummond de Andrade parodia o lirismo sentimental do árcade Tomás Antônio Gonzaga.

b) Por pertencer à fase heroica ou iconoclas­ta do Modernismo, Carlos Drummond de Andrade parodia o lirismo sentimental do árcade Tomás Antônio Gonzaga.   

c) Gonzaga, como muitos árcades, é alheio ao que está a seu redor, já Drummond ex­pressa um sentimento de revolta ante um mundo que não compreende as dores do poeta.    

d) Em Gonzaga, o coração do poeta alcança a plenitude com a presença da amada. Em Drummond, o coração é insuficiente para abarcar as próprias dúvidas existenciais.    

e) Tomás A. Gonzaga usa a imagem do “mundo” para instigar a musa Marília a aceitá-lo; Drummond retoma o procedi­mento do poeta árcade, ressaltando o so­frimento por causa da amada.    

16. (Cftmg 2018) Soneto da intimidade

 

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.

Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora

Mastigando um capim, o peito nu de fora

No pijama irreal de há três anos atrás.

 

Desço o rio no vau dos pequenos canais

Para ir beber na fonte a água fria e sonora

E se encontro no mato o rubro de uma amora

Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

 

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume

Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme

E quando por acaso uma mijada ferve

 

Seguida de um olhar não sem malícia e verve

Nós todos, animais, sem comoção nenhuma

Mijamos em comum numa festa de espuma.

MORAES, Vinicius de. Nova Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

Escrito no século XX, o poema de Vinicius de Moraes dialoga com a poesia árcade ao integrar a forma clássica do soneto à temática bucólica. Por outro lado, o texto distingue-se das produções do século XVIII por apresentar

a) versos livres e sequências narrativas.    

b) linguagem coloquial e intenção humorística.   

c) vocabulário urbano e personificação de animais.    

d) ausência de paradoxos e predomínio da subjetividade.    

17. (Uefs 2018) Esse movimento foi marcado por algumas preocupações recorrentes: um certo anticlassicismo, uma visão individualista, um desejo de romper com a normatividade e com os excessos do racionalismo. Liberdade, paixão e emoção constituem um tripé sobre o qual se assenta boa parte desse movimento.

(Adilson Citelli. “Uma palavra em seu tempo”, 1986. Adaptado.)

Tal comentário refere-se ao movimento

a) árcade.   

b) romântico.   

c) parnasiano.   

d) realista.   

e) naturalista.   

18. (Unifesp 2017) Predomina neste movimento uma tônica mais cosmopolita, intimamente ligada às modas literárias da Europa, desejando pertencer ao mesmo passado cultural e seguir os mesmos modelos, o que permitiu incorporar os produtos intelectuais da colônia inculta ao universo das formas superiores de expressão. Ao lado disso, tal movimento continuou os esboços particularistas que vinham do passado local, dando importância relevante tanto ao índio e ao contato de culturas, quanto à descrição da natureza, mesmo que fosse em termos clássicos.

(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)

Tal comentário refere-se ao seguinte movimento literário brasileiro:

a) Romantismo.   

b) Classicismo.   

c) Naturalismo.   

d) Barroco.   

e) Arcadismo.   

19. (CFTMG 2016) Leia o soneto abaixo para responder à questão.

 

Para cantar de amor tenros cuidados,

Tomo entre vós, ó montes, o instrumento;

Ouvi pois o meu fúnebre lamento;

Se é que de compaixão sois animados:

 

Já vós vistes, que aos ecos magoados

Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;

Da lira de 1Anfião ao doce acento

Se viram os rochedos abalados.

 

Bem sei, que de outros gênios o 2Destino,

Para cingir de 3Apolo a verde rama,

Lhes influiu na lira estro divino:

 

O canto, pois, que a minha voz derrama,

Porque ao menos o entoa um peregrino,

Se faz digno entre vós também de fama. 

COSTA, Cláudio Manuel da. A poesia dos inconfidentes. (Org.: COSTA, MACHADO). São Paulo: Martins Fontes, 1966, p. 51 – 52.

Vocabulário:

1Anfião: Deus da mitologia grega, filho de Zeus e Antíope, que recebeu uma lira como presente de Apolo, que também o ensinou a tocá-la. Ele construiu a cidade de Tebas tocando a lira, pois, ao som de sua música, as pedras se moviam sozinhas.

2Destino: Na Grécia Antiga, o Destino dos deuses e dos homens era concedido às três irmãs Moiras, responsáveis por tecer e cortar o fio da vida de cada um.

3Apolo: Filho de Zeus e Latona, é considerado o deus da juventude e da luz. Apesar de ser sempre associado à imagem de um jovem viril e talentoso, não teve sucesso no amor, devido à paixão não correspondida por Dafne. O poeta Calímaco apresenta Apolo como o inventor da lira, mas outros textos indicam que quem o inventou foi seu irmão Hermes.

O soneto de Cláudio Manuel da Costa traz vários elementos característicos da estética árcade, como a recuperação dos valores clássicos, percebida na menção aos deuses gregos. Por meio dessa estratégia, o autor indica a

a) aspiração do eu lírico a seu destino artístico.   

b) razão do eu lírico para suas escolhas poéticas.   

c) subordinação do eu lírico ao desejo dos deuses.   

d) aproximação entre o eu lírico e os deuses do Panteão.    

20. (Ueg 2016) Leia o poema e observe a pintura a seguir para responder à questão.

 

Destes penhascos fez a natureza

O berço, em que nasci: oh quem cuidara,

Que entre pedras tão duras se criara

Uma alma terna, um peito sem dureza!

 

Amor, que vence os tigres, por empresa

Tomou logo render-me ele declara

Centra o meu coração guerra tão rara,

Que não me foi bastante a fortaleza

 

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,

A que dava ocasião minha brandura,

Nunca pude fugir ao cego engano:

 

Vós, que ostentais a condição mais dura,

Temei, penhas, temei; que Amor tirano,

Onde há mais resistência mais se apura 

COSTA, Claudio Manuel da. Soneto XCVIII. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acesso em: 26 ago. 2015


Tendo por base a comparação entre o poema e a pintura apresentados, verifica-se que 

a) o poema alude a questões de ordem social e política, ao passo que a pintura faz referência a aspectos de teor material.    

b) a pintura representa uma cena de teor espiritual, ao passo que o poema retrata elementos concretos de uma paisagem pedregosa.    

c) a pintura cristaliza um momento de louvor à força humana, ao passo que o poema discute questões atinentes à covardia do homem.    

d) o poema sugere uma correspondência entre dureza da paisagem e dureza da alma, ao passo que a pintura metaforiza questões mitológicas.    

21. (Espcex (Aman) 2014) Leia os versos abaixo:


“Se não tivermos lãs peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
por mãos de amor, por minhas mãos cosido.” 

A característica presente na poesia árcade, presente no fragmento acima, é  

a) aurea mediocritas.  
b) cultismo.
c) ideias iluministas.
d) conflito espiritual.
e) carpe diem.

22. (Espcex (Aman) 2013) Considerando a imagem da mulher nas diferentes manifestações literárias, pode-se afirmar que

a) nas cantigas de amor, originárias da Provença, o eu-lírico é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso.

b) no Arcadismo, a louvação da mulher é feita a partir da escolha de um aspecto físico em que sua beleza se iguale à perfeição da natureza.  

c) no Realismo, a mulher era idealizada como misteriosa, inatingível, superior, perfeita, como nas cantigas de amor.

d) a mulher moderna é inferiorizada socialmente e utiliza a dissimulação e a sedução, muitas vezes desencadeando crises e problemas.

e) a mulher barroca foi apresentada como arquétipo da beleza, evidenciando o poder por ela conquistado, enquanto os homens viviam uma paz espiritual.

23. (Uepa 2012) “Sobre Bocage, sabemos que foi um homem situado entre dois mundos, entre as regras rígidas de um Arcadismo decadente, refletindo um mundo racional, ordenado e concreto, e a liberdade de um Romantismo ascendente, quando a literatura se abre à individualidade e à renovação".

(www.lpm-editores.com.br – 03.09.11)

O comentário acima nos permite concluir que Bocage sofreu a violência simbólica quando uma regra pastoril e neoclássica, disfarçada de gosto e verdade inquestionáveis, impediu parcialmente a expressão de sua liberdade criadora. Interprete os versos abaixo e assinale os que tematizam a resistência a tal regra.

a) Só eu (tirano Amor! tirana Sorte!) Só eu por Nise ingrata aborrecidoPara ter fim meu pranto espero a morte.

b) Ó trevas, que enlutais a Natureza,Longos ciprestes desta selva anosa,Mochos de voz sinistra e lamentosa,Que dissolveis dos fados a incerteza;

c) Das terras a pior tu és, ó Goa,Tu pareces mais ermo que cidade,Mas alojas em ti maior vaidadeQue Londres, que Paris ou que Lisboa.

d) Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga, Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretária antiga!

e) Razão, de que me serve o teu socorro? Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo; Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro. 

24. (Ucs 2012) As obras literárias marcam diferentes visões de mundo, não apenas dos autores, mas também de épocas históricas distintas. Reflita sobre isso e leia os fragmentos dos poemas de Gregório de Matos e de Tomás Antônio Gonzaga. 

Arrependido estou de coração, de coração vos busco, dai-me abraços, abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação, a salvação pretendo em tais abraços, misericórdia, amor, Jesus, Jesus!

(MATOS, Gregório. Pecador contrito aos pés do Cristo crucificado. In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 66.)


Minha bela Marília, tudo passa;a sorte deste mundo é mal segura;se vem depois dos males a ventura,vem depois dos prazeres a desgraça.Estão os mesmos deusessujeitos ao poder do ímpio fado:Apolo já fugiu do céu brilhante,já foi pastor de gado.

(GONZAGA, Tomás António. Lira XIV. In: TUFANO, Douglas Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 77.)


Em relação aos poemas, analise a veracidade (V) ou a falsidade (F) das proposições abaixo.

(aa) O poema de Gregório de Matos apresenta um sujeito lírico torturado pelo peso de seus pecados e desejoso de aproximar-se do Divino.

(aa) Tomás Antônio Gonzaga, embora pertença ao mesmo período literário de Gregório de Matos, revela neste poema um sujeito lírico consciente da brevidade da vida.

(aa) Em relação às marcas de religiosidade, a visão antagônica que se coloca entre os dois poemas reflete, no Barroco, a influência do cristianismo e, no Arcadismo, a da mitologia grega.

Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima para baixo.

a) V – V – V
b) V – F – F
c) V – F – V  
d) F – F – F
e) F – V – F

25. (Uepa 2012) LXII 


Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte rico e fino.

Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.

Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;

Aqui descanse a louca fantasia;
E o que 'té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.

O campo como locus amoenus, livre de mazelas sociais e morais, foi o grande tema literário à época neoclássica, quando a literatura também expressou uma resistência à Cidade, considerada então violento símbolo do poder monárquico e da corrupção moral. Interprete as opções abaixo e assinale aquela em que se sintetiza o modo de resistência expresso nos versos de Cláudio Manuel da Costa acima transcritos.

a) apego à metrificação tradicional
b) bucolismo e paralelismo
c) aurea mediocritas
d) inutilia truncat
e) fugere urbem    







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