1.
(Eear 2019) Leia:
– Nem remédio ingeri, a
moribunda esclarecia.
Passando para o Discurso Indireto o
fragmento acima, de acordo com a norma gramatical, tem-se:
a) Esclarecia a moribunda que
nem ingeriria remédio.
b) A moribunda esclareceu que
nem remédio iria ingerir.
c) Que nem remédio iria
ingerir, a moribunda esclareceria.
d) A moribunda esclarecia que
nem remédio tinha ingerido.
2.
(Ufu 2018) Por
que Raduan Nassar parou de escrever? Essa pergunta com ares novelescos continua
um enigma inexplicado. Depois de se preparar por 20 anos, a consagração veio
junto com a estreia no lançamento do romance "Lavoura Arcaica"
(1975), seguido de outro êxito atordoante, a novela “Um Copo de Cólera” (1978).
No auge de uma carreira recém-começada, as traduções de vento em popa, quando
seus leitores antecipam proezas ainda maiores que estavam por vir, de repente o
escritor paulista anunciou que passava a arar outras terras, trocava a
literatura pela agricultura [...].
FRIAS FILHO, O. O silêncio de Raduan. Folha de S. Paulo, 10 out. 1996. Disponível em:
<https://goo.gl/8Q8oyN>. Acesso em: 30 mar. 2018.
Na coluna
publicada no jornal Folha de São Paulo
em outubro de 1996, a informação sobre o abandono da literatura pelo escritor
Raduan Nassar
a) foi
transcrita sob a forma de discurso indireto introduzido por um verbo de dizer
que pode ser considerado sinônimo de declarar.
b) foi
relatada sem marcas linguísticas que permitam distinguir as palavras do
escritor das palavras do autor do texto.
c) foi
transcrita diretamente embora não seja possível identificar as marcas formais
comumente usadas nessa forma de discurso relatado.
d) foi
relatada indiretamente sem que as regras gramaticais para esse fim fossem
seguidas adequadamente pelo autor do texto.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia a crônica
“Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), para responder à questão:
Do
fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama: “Não saia casa 3 outubro
abraços”.
O
rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora,
mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de
urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma
revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai
nem tomara o mingau com broa, precipitara-se na agência para expedir a
mensagem.
Não
havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava
cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o
telefone, pediu linha, mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que
morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d.
Anita, durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de
empregado da casa; insistira: “como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia
besouros na linha. Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que
talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma
virumque cano1, disse que achava pouco
cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou: “Dia 4 nós conversamos.”
Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga
e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o
mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer.
Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois
sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena
distância. Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava
calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma.
O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta
em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças,
havia armas cruzadas nos cantos. Nos Correios, a mesma coisa, também na
Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes
chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu
escuro, abafado, chuva próxima.
Pensando
bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se no quarto,
procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”, ou
ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou
a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou
deitar-se, embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.
Acordou
assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à Delegacia
de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à
espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.”
“Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era
uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade
bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não
se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E
aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a
meu dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não,
mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja
logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um
trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam para
vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.”
“E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe,
eram uns versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta.
Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem
coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é por isso que o
telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe
que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso custa
cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para outra sala,
onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O
senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos
premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me aconteceria uma
coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo. Juro!”
Dia
4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não devia
ter saído de casa.
1 arma
virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da epopeia
Eneida, do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).
3.
(Unifesp 2018) O
chamado discurso indireto livre constitui uma construção em que a voz do
personagem se mescla à voz do narrador. Verifica-se a ocorrência de discurso
indireto livre em:
a) “Havia
tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o ‘pois não’ melodioso
de d. Anita, durante o dia.” (3º parágrafo)
b) “E
passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa,
precipitara-se na agência para expedir a mensagem.” (2º parágrafo)
c) “Aí,
já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a
pequena distância.” (3º parágrafo)
d) “Trancou-se
no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: ‘Desculpe, é
engano’, ou ficava mudo, sem desligar.” (4º parágrafo)
e) “‘O
senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu
de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?’” (5º parágrafo)
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
A questão a seguir está relacionada ao texto abaixo.
1–
Temos sorte de viver no Brasil – dizia meu pai, depois da guerra. – Na Europa 2mataram
3milhões de judeus.
Contava
as 4experiências que 5os médicos nazistas faziam com os
prisioneiros. Decepavam-lhes as cabeças, faziam-nas encolher – à maneira, li
depois, dos índios Jivaros. 6Amputavam pernas e braços. Realizavam
estranhos transplantes: uniam a metade superior de um homem _____1_____ metade inferior
de uma mulher, ou aos quartos traseiros de um bode. 7Felizmente 8morriam
9essas atrozes quimeras; 10expiravam como seres humanos,
não eram obrigadas a viver como aberrações. (_____2_____ essa altura eu tinha os
olhos cheios de lágrimas. Meu pai pensava 11que a descrição das
maldades nazistas me deixava comovido.)
12Em
1948 13foi proclamado 14o Estado de Israel. Meu pai abriu
uma garrafa de vinho – o melhor vinho do armazém –, brindamos ao acontecimento.
E não saíamos de perto do rádio, acompanhando _____3_____ notícias da guerra no
Oriente Médio. Meu pai estava entusiasmado com o novo Estado: em Israel, explicava,
vivem judeus de todo o mundo, judeus brancos da Europa, judeus pretos da África,
judeus da Índia, isto sem falar nos beduínos com seus camelos: tipos muito
esquisitos, Guedali.
Tipos
esquisitos – aquilo me dava ideias. Por que não ir para Israel? 15Num
país de gente tão estranha – e, 16ainda por cima, em guerra – eu
certamente não chamaria a atenção. Ainda menos como combatente, entre a poeira
e a fumaça dos incêndios. Eu me via correndo pelas ruelas de uma aldeia, empunhando
um revólver trinta e oito, atirando sem cessar; eu me via caindo, 17varado
de balas. 18Aquela, sim, era a 19morte que eu almejava,
morte heroica, esplêndida justificativa para uma vida miserável, de monstro 20encurralado.
E, caso não morresse, poderia viver depois num kibutz . Eu, que conhecia tão bem a vida numa fazenda,
teria muito a fazer ali. Trabalhador dedicado, os membros do kibutz terminariam por me aceitar;
numa nova sociedade há lugar para todos, mesmo os de patas de cavalo.
Adaptado de:
SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed. Porto Alegre: L&PM, 2001.
4.
(Ufrgs 2018) Assinale a alternativa que
apresenta a transposição correta para o discurso indireto do trecho abaixo:
– Temos sorte de
viver no Brasil – dizia meu pai, depois da guerra (ref. 1).
a) Dizia meu pai que tinha
sorte de viver no Brasil depois da guerra.
b) Dizia meu pai que tínhamos
sorte de viver no Brasil depois da guerra.
c) Dizia meu pai para mim que
tivéramos sorte de viver no Brasil depois da guerra.
d) Dizia meu pai: temos sorte
de viver no Brasil depois da guerra.
e) Disse meu pai que tivemos
sorte de viver no Brasil depois da guerra.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
A questão a
seguir refere-se ao trecho inicial do conto “A aranha”, do escritor e
jornalista paulista Orígenes Lessa (1903-1986).
− Quer assunto para um conto? – perguntou o Eneias,
cercando-me no corredor.
Sorri.
− Não, obrigado.
− Mas é assunto
ótimo, verdadeiro, vivido, acontecido, interessantíssimo!
− Não, não é
preciso... Fica para outra vez...
− Você está com
pressa?
− Muita!
− Bem, de outra
vez será. 1Dá um conto estupendo. E com esta vantagem: aconteceu...
É só florear um pouco.
2−
Está bem...Então...até logo...Tenho
que apanhar o elevador...
3Quando me despedia, surge um terceiro. Prendendo-me à prosa.
Desmoralizando-me a pressa.
− Então, que há
de novo?
− Estávamos
batendo papo... Eu estava cedendo, de graça, um assunto notável para um conto.
Tão bom, que até comecei a esboçá-lo, 4há tempos. Mas conto não é
gênero meu − continuou o Eneias, os olhos azuis transbordando de
generosidade.
5−
Sobre o quê? − perguntou o outro.
Eu estava frio. Não havia remédio. Tinha que ouvir,
mais uma vez, o assunto.
− Um caso
passado. Conheceu o Melo, que foi dono de uma grande torrefação aqui em São
Paulo, e tinha uma ou várias fazendas pelo interior?
Pergunta dirigida a mim. Era mais fácil concordar.
(In: Omelete em Bombaim, 1946.
Disponível em: www.academia.org.br)
5.
(Puccamp 2018) É
correta a seguinte observação:
a) O
fragmento transcrito mostra que essa narrativa reproduz uma cena bastante curta
como se fosse captada mecanicamente por um cinegrafista, sem a presença da
subjetividade de um narrador.
b) A
narrativa que se caracteriza pelo ritmo acelerado, em decorrência da grande
presença da fala direta entre personagens, conta com a presença de um narrador
que, onisciente, faz algumas intromissões no relato.
c) Em
relato realizado estritamente por meio de diálogos, as informações são
transmitidas ao leitor pelo que falam ou fazem as personagens que participam da
cena representada.
d) O
trecho é metalinguístico, pois uma personagem, Eneias, centra seu interesse em
convencer, com fundamentos, um contista a escrever sobre fatos verídicos; o
objetivo da personagem é legítimo, porque a veracidade do fato narrado é que
caracteriza a narrativa como literária.
e) No
conto, os comentários de Eneias permitem compreender o que esta personagem
entende que seja um conto, demonstrando seu desconhecimento de que, numa
produção literária, a forma não constitui simples ornamento, mas produz
sentidos.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o conto “A
moça rica”, de Rubem Braga (1913-1990), para responder à(s) questão(ões) a
seguir.
A
madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avançava no 1batelão velho;
remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um 2rincho de
cavalo; depois, numa choça de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina.
Aquele
rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu encontrara galopando na praia.
Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um
irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei com espanto, quase
desgosto: ela usava calças compridas, fazia caçadas, dava tiros, saía de barco
com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de
Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido cachaça, como todos nós, e cantou
primeiro uma coisa em inglês, depois o Luar do sertão e uma canção
antiga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta deve ser alguma santa”.
Era uma canção triste.
Cantando,
ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa
adoração súbita, mas tímida, esse fervor confuso da adolescência – adoração sem
esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suéter e
sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado,
que já tinha ido até à Europa e tinha um automóvel e uma coleção de espingardas
magníficas. Não a mim, com minha pobre 3flaubert, não a mim,
de calça e camisa, descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com um motor de
popa, apenas tocar um batelão com meu remo.
Duas
semanas depois que ela chegou é que a encontrei na praia solitária; eu vinha a
pé, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando
quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manhã
fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que
no interior a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela
respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. São as
duas imagens que se gravaram na minha memória, desse encontro: a pele escura e
suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar
fino da manhã.
E
saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Séria, como se eu fosse um
rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calças de
“palm-beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha
de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam
ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos.
Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia – e
falou de minha irmã, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara
desde a ponta do Boi até perto da lagoa.
De
repente me fulminou: “Por que você não gosta de mim? Você me trata sempre de um
modo esquisito...” Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”.
Ela
então riu, disse que eu confessara que não gostava mesmo dela, e eu disse: “Não
é isso.” Montou o cavalo, perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que
precisava passar na casa dos Lisboa. Não insistiu, me deu um adeus muito
alegre; no dia seguinte foi-se embora.
Agora
eu estava ali remando no batelão, para ir no Severone apanhar uns camarões
vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moça
bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui remando com força, sem
ligar para os respingos de água fria, cada vez com mais força, como se isto
adiantasse alguma coisa.
(Os melhores contos, 1997.)
1batelão:
embarcação movida a remo.
2rincho:
relincho.
3flaubert:
um tipo de espingarda.
6.
(Unesp 2018) Ao
se converter o trecho “Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava
mesmo dela” (7º parágrafo) para o discurso direto, o verbo
“confessara” assume a forma:
a) confessei.
b) confessou.
c) confessa.
d) confesso.
e) confessava.
7. (Espcex (Aman) 2017) Assinale a alternativa que
apresenta exemplo de discurso indireto livre.
a) – Desejo muito conhecer
Carlota – disse-me Glória, a certo ponto da conversação. – Por que não a trouxe
consigo?
b) Omar queixou-se ao pai. Não
era preciso tanta severidade. Por que não tratava os outros filhos com o mesmo
rigor?
c) – Isso não pode continuar
assim, respondeu ela; – é preciso que façamos as pazes definitivamente.
d) Uma semana depois, Virgília
perguntou ao Lobo Neves, a sorrir, quando seria ele ministro. Ele respondeu
que, pela vontade dele, naquele mesmo instante.
e) Daí a pouco chegou João
Carlos e, após ligeiro exame, receitou alguma coisa, dizendo que nada havia de
anormal...
8.
(IFSP 2017) Leia
o texto adaptado abaixo da Revista Língua Portuguesa, nº 104, de junho de 2014,
para responder à questão.
Os legos escritores
O cientista molecular Jared K.
Burks, criador da marca Fine Clonier, deu início à carreira de personalizar
minifiguras há 15 anos, quando a linha Lego Star Wars foi lançada. Fã de
ficção científica, coleciona figuras desde criança.
Desanimado com os personagens do
mercado, criou um método de decalques, o toboágua, e a partir daí aprendeu a
esculpir e montar elencos. Assim surgiu o site Fine Clonier. Em 2007, o site
realizou um concurso sobre versões de figuras históricas e literárias com
Lego.
– Aprendi sobre a criação de
acessórios de pano, pintura, vinil e muitas outras. Passei a escrever para o
BrickJournal, especializado em minifiguras e, por meio dele, compartilhei o que
eu sei em vários sites – disse Burks.
De acordo com Celso
Cunha, discurso é a prática humana de construir textos, sejam eles escritos ou
orais. No texto, há um discurso direto, transcrito abaixo.
“– Aprendi sobre a
criação de acessórios de pano, pintura, vinil e muitas outras. Passei a
escrever para o BrickJournal, especializado em minifiguras e, por meio dele,
compartilhei o que eu sei em vários sites – disse Burks.”
Assinale a
alternativa que apresenta a correta transposição do trecho para o discurso
indireto.
a) Burks
disse que aprendia sobre a criação de acessórios de pano, pintura, vinil e
muitas outras. Passava a escrever para o BrickJournal, especializado em
minifiguras e, por meio dele, compartilhava o que soube em vários sites.
b) Burks
disse que aprendeu sobre a criação de acessórios de pano, pintura, vinil e
muitas outras. Passou a escrever para o BrickJournal, especializado em
minifiguras e, por meio dele, compartilhou o que soubera em vários sites.
c) Burks
dissera que aprendera sobre a criação de acessórios de pano, pintura, vinil e
muitas outras. Passara a escrever para o BrickJournal, especializado em
minifiguras e, por meio dele, compartilhara o que soubera em vários sites.
d) Burks
dizia que aprenderia sobre a criação de acessórios de pano, pintura, vinil e
muitas outras. Passaria a escrever para o BrickJournal, especializado em
minifiguras e, por meio dele, compartilharia o que soubera em vários sites.
e) Burks
disse que aprendera sobre a criação de acessórios de pano, pintura, vinil e
muitas outras. Passara a escrever para o BrickJournal, especializado em
minifiguras e, por meio dele, compartilhara o que sabia em vários sites.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia
o texto abaixo e responda à questão.
A PIPOCA
Rubem Alves
A
culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o
fato é que sou mais competente com as palavras que com as panelas. Por isso
tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia
ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas
entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nóbis, picadinho de carne com
tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. Cheguei mesmo a
dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A festa de Babette, que é uma celebração
da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e
competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta,
psicanalista e teólogo – porque a culinária estimula todas essas funções do
pensamento.
As
comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha capacidade de
sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me
fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu. A pipoca, milho
mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira
deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás,
conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na
minha mente aconteceu. Minhas ideias começaram a estourar como pipoca. Percebi,
então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento
nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível. A pipoca
se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque,
ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como
aqueles das pipocas dentro de uma panela.
Lembrei-me
do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. Para
os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue
de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não
é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir
juntas. Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia
poderosa do candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do candomblé...
A
pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se
no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria
bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista do
tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei
como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar
as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos
amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água,
tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme
barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros
quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças
podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples
operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de
todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E
o que é que isso tem a ver com o candomblé? É que a transformação do milho duro
em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens
para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve
ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca
somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo
podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa − voltar a ser
crianças!
Mas
a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa
pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a
gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não
passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice
e dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é
o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos
lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um
amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser
fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas causas
ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o
sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino
que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais
quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura,
fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar
a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que
ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação
acontece: pum! − e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente,
que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do
casulo como borboleta voante.
Na
simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e
ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É
preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro. “Morre e transforma-te!” −
dizia Goethe.
Em
Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas
descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era
gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer
do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de
pipoca que se recusa a estourar. Meu amigo William, extraordinário
professor-pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou
cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma
explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia as explicações
científicas não valem. Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às
mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta,
lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos piruás é muito
maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam
a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito
delas serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á.” A
sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino
delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor
branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da
pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu
destino é o lixo. Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a
ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...
Acessado em 31 de mai. 2016.
Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo
Ortográfico.
9. (Efomm 2017) Minha prima, passada dos
quarenta, lamentava: ‘Fiquei piruá!’
Essa passagem com a
transposição do discurso direto para o indireto, considerando-se a norma culta,
ficaria adequadamente organizada na opção:
a) Minha prima, passada dos
quarenta, lamentava que ficou piruá.
b) Minha prima, passada dos
quarenta, lamentava que tinha ficado piruá.
c) Minha prima, passada dos
quarenta, havia lamentado que ficou piruá.
d) Minha prima, passada dos
quarenta, lamentava que teria ficado piruá.
e) Minha prima, passada dos
quarenta, lamentava que ficará piruá.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia a fábula “A
raposa e o lenhador”, do escritor grego Esopo (620 a.C.?-564 a.C.?), para
responder à questão a seguir:
Enquanto fugia de
caçadores, uma raposa viu um lenhador e lhe pediu que a escondesse. Ele sugeriu
que ela entrasse em sua cabana e se ocultasse lá dentro. Não muito tempo
depois, vieram os caçadores e perguntaram ao lenhador se ele tinha visto uma
raposa passar por ali. Em voz alta ele negou tê-la visto, mas com a mão fez
gestos indicando onde ela estava escondida. Entretanto, como eles não prestaram
atenção nos seus gestos, deram crédito às suas palavras. Ao constatar que eles
já estavam longe, a raposa saiu em silêncio e foi indo embora. E o lenhador se
pôs a repreendê-la, pois ela, salva por ele, não lhe dera nem uma palavra de
gratidão. A raposa respondeu: “Mas eu seria grata, se os gestos de sua mão
fossem condizentes com suas palavras.”
(Fábulas completas, 2013.)
10.
(Unifesp 2017) Os
trechos “Ele sugeriu que ela entrasse em sua cabana” e “vieram os caçadores e
perguntaram ao lenhador se ele tinha visto uma raposa” foram construídos em
discurso indireto. Ao se transpor tais trechos para o discurso direto, o verbo
“entrasse” e a locução verbal “tinha visto” assumem, respectivamente, as
seguintes formas:
a) “entrai”
e “vira”.
b) “entrou”
e “viu”.
c) “entre”
e “vira”.
d) “entre”
e “viu”.
e) “entrai”
e “viu”.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
A questão a seguir
está relacionadas ao texto abaixo.
Não
faz muito que 1temos esta nova TV com controle remoto, 2mas
devo dizer que se trata agora de um instrumento sem 3o qual eu não
saberia viver. Passo os dias sentado na velha poltrona, mudando de um canal
para o outro – uma tarefa que antes exigia certa movimentação, 4mas
que agora ficou muito fácil. Estou num canal, não gosto – 5zap, mudo
para outro. 6Eu 7gostaria de ganhar em dólar num mês o
número de vezes que você troca de canal em uma hora, diz minha mãe. 8Trata-se
de uma pretensão fantasiosa, 9mas pelo menos 10indica 11disposição
para o humor, admirável nessa mulher.
12Sofre
minha mãe. Sempre 13sofreu14: infância carente, pai
cruel, etc. Mas o seu sofrimento aumentou muito quando meu pai a deixou. Já faz
tempo; foi logo depois que eu nasci, e estou agora com treze anos. Uma idade em
que se vê muita televisão, e em que se muda de canal constantemente, ainda que
minha mãe ache 15isso um absurdo. Da tela, uma moça sorridente
pergunta se o caro telespectador já conhece certo novo sabão em pó. 16Não
conheço nem quero conhecer, de modo que – 17zap – mudo de canal. “Não
me abandone, Mariana, não me abandone18!”. Abandono, sim. Não tenho
o menor 19remorso, e agora é um desenho, que eu já vi duzentas vezes,
e – 20zap – um homem 21falando. Um homem, abraçado _____1_____
guitarra elétrica, fala _____2_____ uma entrevistadora. É um roqueiro. É meio
velho, tem cabelos grisalhos, rugas, falta-lhe um dente. É o meu pai.
É
sobre mim que 22ele fala. Você tem um filho, não tem?, pergunta a
apresentadora, e ele, meio 23constrangido – situação pouco admissível
para um roqueiro de verdade –, diz que sim, que tem um filho só que não vê há muito
tempo. Hesita um pouco e acrescenta: você sabe, eu tinha que fazer uma opção,
era a família ou o rock. A entrevistadora, porém, insiste (24é
chata, ela): mas o seu filho gosta de rock25? Que você saiba, seu filho gosta
de rock26?
Ele
se mexe na cadeira; o microfone, preso _____3_____ desbotada camisa, roça-27lhe
o peito, produzindo um desagradável e bem audível rascar. Sua angústia é
compreensível; aí está, num programa local e de baixíssima audiência – e ainda
tem de passar pelo vexame de uma pergunta que o embaraça e à qual não sabe
responder. E então ele me olha. 28Vocês dirão que não, que é para a câmera
que ele olha; aparentemente é isso; mas na realidade é a mim que ele olha, sabe
que, em algum lugar, diante de uma tevê, estou a fitar seu rosto atormentado,
as lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu olhar ele procura a resposta _____4_____
pergunta da apresentadora: você gosta de rock? Você gosta de mim? Você me
perdoa? – mas aí comete um engano mortal29: insensivelmente, automaticamente,
seus dedos começam a dedilhar as cordas da guitarra, é o vício do velho
roqueiro. Seu rosto se ilumina e 30ele vai dizer que sim, que seu
filho ama o rock tanto quanto ele, mas nesse momento – 31zap – aciono
o controle remoto e ele some. 32Em seu lugar, uma bela e sorridente
jovem que está – à exceção do pequeno relógio que usa no pulso – nua,
completamente nua.
Adaptado de: SCLIAR, M. Zap. In: MORICONI, Í. (Org.) Os cem melhores contos brasileiros.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 547-548.
11. (Ufrgs 2017) Na primeira coluna, abaixo,
são listados modos diferentes de apresentação, pelo narrador, de discurso
direto e indireto no interior da narrativa; na coluna seguinte, passagens que
correspondem à caracterização desses discursos e suas relações aos dizeres do
narrador-personagem e demais personagens presentes no texto.
Associe corretamente a
primeira coluna à segunda.
1. Passagem que traz o
discurso direto do narrador-personagem, que revela os diálogos entre ele e a
televisão.
2. Passagem que traz o
discurso direto, que revela o dizer da mãe do narrador-personagem.
3. Passagem que traz o
discurso indireto, que revela o dizer da mãe do narrador-personagem.
4. Passagem que traz o
discurso indireto, que revela a suposição do narrador-personagem do dizer do
pai.
5. Passagem que traz o
discurso indireto, que revela a suposição do narrador-personagem a respeito do
que o pai irá responder.
6. Passagem que traz o
discurso indireto, que revela a suposição do narrador-personagem da resposta dos
leitores sobre suas convicções.
( ) Eu
gostaria de ganhar em dólar num mês o número de vezes que você troca de canal
em uma hora [...]. (ref. 6)
( ) Não
conheço nem quero conhecer [...]. (ref. 16)
( ) Vocês
dirão que não, que é para a câmera que ele olha [...]. (ref. 28)
( ) ele
vai dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto quanto ele [...]. (ref.
30)
A sequência correta de
preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) 1 – 5 – 3 – 4.
b) 2 – 1 – 6 – 5.
c) 3 – 6 – 4 – 5.
d) 4 – 2 – 3 – 1.
e) 5 – 3 – 6 – 1.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Para responder à questão a seguir,
leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada
originalmente em setembro de 1953.
Seu Afredo (ele sempre
subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo
Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se
muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá
das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava
passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o
lustro. Mas, como linguista, cultor do 1vernáculo e aplicador de
sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.
Tratava-se de um mulato
quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava
às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou
ligeiramente 2ressabiada quando seu Afredo, casualmente de passagem,
parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:
– Onde vais assim
tão elegante?
Nós lhe dávamos uma bruta
corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos
pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à 3lide
caseira, queixou-se do fatigante 4ramerrão do trabalho doméstico.
Seu Afredo virou-se para ela e disse:
– Dona Lídia, o que a senhora
precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é
muito bão.
De outra feita, minha tia
Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo,
acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto
minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:
– Cantas?
Minha tia, meio surpresa,
respondeu com um riso amarelo:
– É, canto às vezes, de
brincadeira...
Mas, um tanto formalizada,
foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador:
– Não, ele é assim mesmo.
Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática.
Conta ela que seu Afredo,
mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:
– Olhe aqui, dona Lídia,
não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no
rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro!
E, a seguir, ponderou:
– Agora, piano é diferente.
Pianista ela é!
E acrescentou:
– Eximinista pianista!
Para uma
menina com uma flor, 2009.
1vernáculo: a língua própria
de um país; língua nacional.
2ressabiado: desconfiado.
3lide: trabalho penoso,
labuta.
4ramerrão: rotina.
12. (Unesp 2017) “[Seu Afredo] perguntou-lhe
à queima-roupa, na segunda do singular:
– Onde vais assim tão
elegante?” (2º parágrafo/3º parágrafo)
Ao se adaptar este trecho
para o discurso indireto, o verbo “vais” assume a seguinte forma:
a) foi.
b) fora.
c) vai.
d) ia.
e) iria.
Olá!
ResponderExcluirQuestões muito boas, mas onde posso encontrar o gabarito?