1. (Fuvest 2019) I. Surge
então a pergunta: se a fantasia funciona como realidade; se não conseguimos
agir senão mutilando o nosso eu; se o que há de mais profundo em nós é no fim
de contas a opinião dos outros; se estamos condenados a não atingir o que nos
parece realmente valioso –, qual a diferença entre o bem e o mal, o justo e o
injusto, o certo e o errado? O autor passou a vida a ilustrar esta pergunta,
que é modulada de maneira exemplar no primeiro e mais conhecido dos seus
grandes romances de maturidade.
II. É preciso todavia lembrar que essa ligação
com o problema geográfico e social só adquire significado pleno, isto é, só
atua sobre o leitor, graças à elevada qualidade artística do livro. O seu autor
soube transpor o ritmo mesológico para a própria estrutura da narrativa,
mobilizando recursos que a fazem parecer movida pela mesma fatalidade sem
saída. (...) Da consciência
mortiça da personagem podem emergir os transes periódicos em que se estorce o
homem esmagado pela paisagem e pelos outros homens.
Nos
fragmentos I e II, aqui adaptados, o crítico Antonio Candido avalia duas obras
literárias, que são, respectivamente,
a)
A Relíquia e Sagarana.
b)
O Cortiço e Iracema.
c)
Sagarana e O Cortiço.
d)
Mayombe e Minha Vida de Menina.
e)
Memórias
Póstumas de Brás Cubas e Vidas Secas.
2. (Uerj 2019) Um poema de Vinicius de
Moraes
1A
flutuação do gosto em relação aos poetas é normal, como é normal a sucessão dos
modos de fazer poesia. Pelo visto, Vinicius de Moraes anda em baixa acentuada.
Talvez o seu prestígio tenha diminuído porque se tornou cantor e compositor,
levando a opinião a considerá-lo mais letrista do que poeta. Mas deve ter sido
também porque encarnou um tipo de poesia oposto a certas modalidades para as
quais cada palavra tende a ser objeto autônomo, portador de maneira isolada (ou
quase) do significado poético.
Na
história da literatura brasileira ele é um poeta de continuidades, não de
rupturas; e o nosso é um tempo que tende à ruptura, ao triunfo do ritmo e mesmo
do ruído sobre a melodia, assim como tende a suprimir as manifestações da
afetividade. Ora, Vinicius é melodioso e não tem medo de manifestar
sentimentos, com uma naturalidade que deve desgostar as poéticas de choque. Por
vezes, ele chega mesmo a cometer o pecado maior para o nosso tempo: o
sentimentalismo. Isso lhe permitiu dar estatuto de poesia a coisas, sentimentos
e palavras extraídos do mais singelo cotidiano, do coloquial mais familiar e
até piegas, de maneira a parecer muitas vezes um seresteiro milagrosamente
transformado em poeta maior. João Cabral disse mais de uma vez que sua própria
poesia remava contra a maré da tradição lírica de língua portuguesa. Vinicius
seria, ao contrário, alguém integrado no fluxo da sua corrente, porque se
dispôs a atualizar a tradição. Isso foi possível devido à maestria com que
dominou o verso, jogando com todas as suas possibilidades.
Ele
consegue ser moderno usando metrificação e cultivando a melodia, com uma
imaginação renovadora e uma liberdade que quebram as convenções e conseguem
preservar os valores coloquiais. Rigoroso como Olavo Bilac, fluido como o
Manuel Bandeira dos versos regulares, terra a terra como os poemas conversados
de Mário de Andrade, esse mestre do soneto e da crônica é um 2raro
malabarista.
ANTONIO
CANDIDO. Adaptado de Teoria e debate,
nº 49. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, out-dez, 2001.
A flutuação do gosto em
relação aos poetas é normal, como é normal a sucessão dos modos de fazer
poesia.
(ref. 1)
A
relação que se estabelece entre essa declaração inicial do crítico Antonio
Candido e o restante de seu texto pode ser definida pela seguinte
sequência:
a)
problema –
solução
b)
abstração –
realidade
c)
pressuposição
– asserção
d)
generalização
– particularização
3. (Fuvest 2019) O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a
jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do
povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?
José de Alencar. Bênção Paterna. Prefácio
a Sonhos
d’ouro.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca
junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome,
outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os
alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda e as tintas de
que matiza o algodão.
José
de Alencar. Iracema.
Glossário:
“ará”:
periquito; “uru”: cesto; “crautá”: espécie de bromélia; “juçara”: tipo de palmeira
espinhosa.
a)
Para Alencar,
a literatura brasileira deveria ser capaz de representar os valores nacionais
com o mesmo espírito do europeu que sorve o figo, a pera, o damasco e a
nêspera.
b)
Ao discutir,
no primeiro trecho, a importação de ideias e costumes, Alencar propõe uma
literatura baseada no abrasileiramento da língua portuguesa, como se verifica
no segundo trecho.
c)
O contraste
entre os verbos “chupar” e “sorver”, empregados no primeiro trecho, revela o
rebaixamento de linguagem buscado pelo escritor em Iracema.
d)
Em Iracema,
a construção de uma literatura exótica, tal como se verifica no segundo trecho,
pautou‐se pela recusa de nossos
elementos naturais.
e)
Ambos os
trechos são representativos da tendência escapista de nosso romantismo, na
medida em que valorizam os elementos naturais em detrimento da realidade
rotineira.
4. (Fuvest 2019) Sonetilho
do falso Fernando Pessoa
Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.
Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.
Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo*,
eis‐me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.
*conversa
íntima entre casais.
Ulisses
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo ‐
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá‐la
decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
Fernando Pessoa. Mensagem.
Considerando os poemas, assinale a alternativa
correta.
a)
As noções de
que a identidade do poeta independe de sua existência biográfica, no
“Sonetilho”, e de que o mito se perpetua para além da vida, em “Ulisses”,
produzem uma analogia entre os poemas.
b)
As referências
a Mefisto (“diabo”, na lenda alemã de Fausto) e a Deus no “Sonetilho” e
em “Ulisses”, respectivamente, associadas ao polo de opostos “morte” e “vida”,
revelam uma perspectiva cristã comum aos poemas.
c)
O resgate da
forma clássica, no “Sonetilho”, e a referência à primeira pessoa do plural, em
“Ulisses”, denotam um mesmo espírito agregador e comunitário.
d)
O eu lírico de
cada poema se identifica, respectivamente, com seus títulos. No poema de
Drummond, trata‐se de alguém referido como
“falso Fernando Pessoa”, já no poema de Pessoa, o eu lírico é “Ulisses”.
e)
Os versos “As
coisas tangíveis / tornam‐se insensíveis / à palma da
mão. // Mas as coisas findas, / muito mais que lindas, / essas ficarão”, de
outro poema de Claro Enigma, sugerem uma relação de contraste com os
poemas citados.
5. (Puccamp 2018) Atente para este fragmento
do poeta romântico Gonçalves de Magalhães, no prefácio à sua obra Suspiros
poéticos e saudades:
É um livro de poesias
escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as ruínas da
antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a
imaginação vagando no infinito; ora na gótica catedral, admirando a grandeza de
Deus; (...) ora, enfim, refletindo sobre a sorte da Pátria, sobre as paixões
dos homens, sobre o nada da vida.
Nesse fragmento incluem-se
convicções românticas quanto à importância
a)
da
religiosidade pagã e do realismo nas análises da sociedade.
b)
do progresso
material e da evolução da ciência.
c)
dos valores
nacionalistas e da fé cristã.
d)
do repúdio à
barbárie e do otimismo da civilização ocidental.
e)
da renúncia ao
misticismo e do apego ao cotidiano.
6. (Unesp 2018) A poesia dos antigos era a
da posse, a dos novos é a da saudade (e anseio); aquela se ergue, firme, no
chão do presente; esta oscila entre recordação e pressentimento. O ideal grego
era a concórdia e o equilíbrio perfeitos de todas as forças; a harmonia natural.
Os novos, porém, adquiriram a consciência da fragmentação interna que torna
impossível este ideal; por isso, a sua poesia aspira a reconciliar os dois
mundos em que se sentem divididos, o espiritual e o sensível, fundindo-os de um
modo indissolúvel. Os antigos solucionam a sua tarefa, chegando à perfeição; os
novos só pela aproximação podem satisfazer o seu anseio do infinito.
(August Schlegel apud Anatol Rosenfeld. Texto/Contexto I, 1996. Adaptado.)
Os “novos” a que se refere
o escritor alemão August Schlegel são os poetas
a)
românticos.
b)
modernistas.
c)
árcades.
d)
clássicos.
e)
naturalistas.
7. (Enem 2018) Dia 20/10
É
preciso não beber mais. Não é preciso sentir vontade de beber e não beber: é
preciso não sentir vontade de beber. É preciso não dar de comer aos urubus. É preciso
fechar para balanço e reabrir. É preciso não dar de comer aos urubus. Nem
esperanças aos urubus. É preciso sacudir a poeira. É preciso poder beber sem se
oferecer em holocausto. É preciso. É preciso não morrer por enquanto. É preciso
sobreviver para verificar. Não pensar mais na solidão de Rogério, e deixá-lo. É
preciso não dar de comer aos urubus. É preciso enquanto é tempo não morrer na
via pública.
TORQUATO
NETO. In: MENDONÇA, J. (Org.) Poesia
(im)popular brasileira. São Bernardo do Campo: Lamparina Luminosa, 2012.
O
processo de construção do texto formata uma mensagem por ele dimensionada, uma
vez que
a)
configura o
estreitamento da linguagem poética.
b)
reflete as
lacunas da lucidez em desconstrução.
c)
projeta a
persistência das emoções reprimidas.
d)
repercute a
consciência da agonia antecipada.
e)
revela a
fragmentação das relações humanas.
8. (Mackenzie 2018) Segundo Alfredo Bosi, no seu livro História
concisa da literatura: “Paralelamente às obras e nascendo com o desejo de
explicá-las e justificá-las, os modernistas fundavam revistas e lançavam
manifestos que iam delimitando os subgrupos, de início apenas estéticos, mas
logo portadores de matizes ideológicos mais ou menos precisos”.
A
partir dessas considerações, assinale a alternativa correta.
I. A prática da
escrita de manifestos se conecta exclusivamente aos movimentos de vanguarda
latino-americanos, pois as vanguardas europeias preferiram, no lugar do
manifesto, o uso de longos tratados estéticos.
II. Klaxon, publicada
no ano de 1922 em São Paulo, e Estética, lançada em 1924 no Rio de
Janeiro, foram duas revistas que contribuíram para o debate modernista ao longo
da década de 1920.
III. Os
“Manifesto da poesia Pau-Brasil” e “Manifesto antropófago” contêm importantes
diretrizes do grupo modernista formado ao redor da ação cultural de Oswald de
Andrade e Mário de Andrade.
a)
Estão corretas
as afirmativas I e II.
b)
Estão corretas
as afirmativas I e III.
c)
Estão corretas
as afirmativas II e III.
d)
Todas as
afirmativas estão corretas.
e)
Nenhuma das
afirmativas está correta.
9. (Unesp 2018) De fato, este romance
constitui um dos poucos romances cômicos do romantismo nacional, afastando-se
dos traços idealizantes que caracterizam boa parte das obras “sérias”
dos autores de então. O modo pelo qual este romance pinta a sociedade,
representado-a a partir de um ângulo abertamente cômico e satírico, também era
relativamente novo nas letras brasileiras do século XIX.
(Mamede Mustafa Jarouche.
“Galhofa sem melancolia”, 2003. Adaptado.)
O comentário refere-se ao
romance
a)
O cortiço, de Aluísio Azevedo.
b)
Memórias
póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
c)
Memórias de
um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
d)
Iracema, de José de Alencar.
e)
Macunaíma, de Mário de Andrade.
10. (Enem PPL 2017) Inovando os padrões estéticos de sua época, a obra de Pablo Picasso foi produzida utilizando características de um movimento artístico que
a)
dispensa a
representação da realidade.
b)
agrega
elementos da publicidade em suas composições.
c)
valoriza a
composição dinâmica para representar movimento.
d)
busca uma
composição reduzida e seus elementos primários de forma.
e)
explora a
sobreposição de planos geométricos e fragmentos de objetos.
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