– Tenho dentes de
navalha, e com um pulo de ida‐e‐volta resolvo a questão!...
– Exagero... – diz a
arraia – eu durmo na areia, de ferrão a prumo, e sempre há um descuidoso que
vem se espetar.
– Pois, amigas, –
murmura o gimnoto*, mole, carregando a bateria – nem quero pensar no assunto:
se eu soltar três pensamentos elétricos, bate‐poço, poço em volta, até vocês duas boiarão
mortas...
*peixe elétrico.
Esse
texto, extraído de Sagarana, de Guimarães Rosa,
a) antecipa o destino funesto do ex‐militar Cassiano Gomes e
do marido traído Turíbio Todo, em “Duelo”, ao qual serve como epígrafe.
b) assemelha‐se ao caráter existencial da disputa entre
Brilhante, Dansador e Rodapião na novela “Conversa de Bois”.
c) reúne as três figurações do protagonista da
novela “A hora e vez de Augusto Matraga”, assim denominados: Augusto Estêves,
Nhô Augusto e Augusto Matraga.
d) representa o misticismo e a atmosfera de
feitiçaria que envolve o preto velho João Mangalô e sua desavença com o
narrador‐personagem
José, em “São Marcos”.
e) constitui uma das cantigas de “O burrinho
Pedrês”, em que a sagacidade da boiada se sobressai à ignorância do burrinho.
2.
(Fac. Albert Einstein - Medicin 2018) Mas... Houve um pequeno engano, um
contratempo
de última hora, que veio
pôr
dois bons sujeitos, pacatíssimos e
pacíficos,
num jogo dos demônios, numa
comprida
complicação.
O
trecho acima faz parte do conto “Duelo”, uma das narrativas de Sagarana, de João Guimarães Rosa. Essa
narrativa, como um todo, apresenta
a) duas histórias de vingança que se entrelaçam,
ou seja, um marido buscando o amante da esposa e um homem buscando o assassino
do irmão.
b) uma trama protagonizada por uma mulher de
olhos bonitos, sempre grandes, de cabra tonta, que se envolve com um pistoleiro
que acaba sendo morto por ela.
c) as peripécias vividas por um capiau que se
torna o agente de um crime contra seu compadre e amigo, Cassiano Gomes, por
desavenças de traição amorosa.
d) cenas de adultério praticadas por dona Silivânia,
no mais doce, dado e descuidoso dos idílios fraudulentos, com o amante Turíbio
Todo, o que provoca tragédia entre seus pretendentes.
3.
(Unioeste 2018) Tendo
por base Esses Lopes, de João
Guimarães Rosa, conto do qual foi extraído o texto abaixo, assinale a
alternativa INCORRETA.
“Quero falar alto. [...] A maior prenda, que
há, é ser virgem. [...] Me valia ter pai e mãe, sendo órfã de dinheiro? [...]
Eu queria me chamar Maria Miss, reprovo o meu nome, de Flausina. [...] E veio
aquele, Lopes, chapéu grandão, aba desabada. [...] Aguentei aquele caso
corporal. [...] Varri casa, joguei o cisco para a rua, depois do enterro. [...]
E os Lopes me davam sossego? Dois deles, tesos, me requerendo, o primo e o
irmão do falecido. [...] Mas um, mais, porém, ainda me sobrou, Sorocabano
Lopes, velhoco, o das fortes propriedades. [...] De hoje por diante, só muito
casada! [...] Quero o bom-bocado que não fiz, quero gente sensível. [...]
Lopes, não! – desses me arrenego.”
a) Flausina, a personagem narradora, apesar do
abuso machista e de ter filhos de pais diferentes, revela-se mãe exemplar.
b) A protagonista consegue livrar-se dos Lopes e
garantir sua sobrevivência mediante intriga, astúcia e ações mortais
planejadas.
c) O domínio da escrita e da leitura é um dos
instrumentos de que se vale Flausina para corroborar sua vingança.
d) Instantâneos da vida sertaneja, costumes,
ambiente e personagens do sertão são representados a partir de uma técnica
estética inovadora.
e) Subjacente ao discurso da mulher que se vinga
das humilhações sofridas, está o discurso do prazer pelas desmedidas vinganças
praticadas.
4.
(Enem 2018) –
Famigerado? [...]
–
Famigerado é “inóxio”, é “célebre”, “notório”, “notável” ...
–
Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é
desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?
–
Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos ...
–
Pois ... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia de semana?
–
Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito ...
ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Nesse
texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados dias da
semana remete ao
a) local de origem dos interlocutores.
b) estado emocional dos interlocutores.
c) grau de coloquialidade da comunicação.
d) nível de intimidade entre os interlocutores.
e) conhecimento compartilhado na comunicação.
5.
(Enem 2018) A
imagem integra uma adaptação em quadrinhos da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na representação
gráfica, a inter-relação de diferentes linguagens caracteriza-se por
a) romper com a linearidade das ações da
narrativa literária.
b) ilustrar de modo fidedigno passagens
representativas da história.
c) articular a tensão do romance à
desproporcionalidade das formas.
d) potencializar a dramaticidade do episódio com
recursos das artes visuais.
e) desconstruir a diagramação do texto literário
pelo desequilíbrio da composição.
6. (Ufrgs 2018) No bloco superior abaixo, estão listados os
títulos dos romances de Carolina Maria de Jesus e de Clarice Lispector; no
inferior, trechos desses romances.
Associe adequadamente o bloco inferior ao
superior.
1.Quarto de despejo
2.
A hora da estrela
( ) Ela me incomoda tanto que fiquei oco.
Estou oco desta moça. E ela tanto mais me incomoda quanto menos reclama. [...]
Como me vingar? Ou melhor, como me compensar? Já sei: amando meu cão que tem
mais comida do que a moça. Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra? Não,
ela é doce e obediente.
( ) Achei um saco de fubá no lixo e trouxe
para dar ao porco. Eu já estou tão habituada com as latas de lixo, que não sei
passar por elas sem ver o que há dentro. [...] Ontem eu li aquela fábula da rã
e a vaca. Tenho a impressão que sou rã. Queria crescer até ficar do tamanho da
vaca.
( ) A vida é igual um livro. Só depois de
ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que
sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é
a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.
( ) “Una Furtiva Lacrima” fora a única coisa
belíssima na sua vida. [...] Era a primeira vez que chorava, não sabia que
tinha tanta água nos olhos. [...] Não chorava por causa da vida que levava:
porque, não tendo conhecido outros modos de viver, aceitara que com ela era
“assim”. Mas também creio que chorava porque, através da música, adivinhava
talvez que havia outros modos de sentir.
A sequência correta de preenchimento dos
parênteses, de cima para baixo, é
a) 1 – 2 – 2 – 1.
b) 2 – 1 – 1 – 2.
c) 2 – 1 – 2 – 1.
d) 1 – 2 – 1 – 2.
e) 1 – 1 – 2 – 2.
7. (Ufrgs 2018) Assinale a alternativa que preenche
corretamente as lacunas dos trechos abaixo, adaptados de A hora da estrela, de Clarice Lispector.
Proponho-me
a que não seja complexo o que escreverei, embora obrigado a usar as palavras
que vos sustentam. A história – determino com falso livre-arbítrio – vai ter
uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu,
__________. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar
modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus
hábitos uma história com começo, meio e “gran finale” seguido de silêncio e de
chuva caindo. [...] __________ trabalhava de operário numa metalúrgica e ela
nem notou que ele não se chamava de “operário” e sim de “metalúrgico”.
___________ ficava contente com a posição social dele porque também tinha
orgulho de ser datilógrafa, embora ganhasse menos de um salário mínimo. Mas
eles eram alguém no mundo. “Metalúrgico e datilógrafa” formavam um casal de
classe.
a) Rodrigo S. M. – Olímpico de Jesus – Macabéa
b) Raimundo Silveira – Rodrigo S. M. – Macabéa
c) Clarice Lispector – Olímpico de Jesus –
Macabéa
d) Rodrigo S. M. – Olímpico de Jesus – Carlota
e) Raimundo Silveira – Rodrigo S. M. – Glória
8.
(Ime 2018) Das
vantagens de ser bobo
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem
tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase
sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa,
responde: "Estou fazendo. Estou pensando.".
1Ser bobo às vezes
oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da
esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os
espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos _____i_____ espertezas
alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples
pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca
parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, 2o bobo é um
Dostoievski.
_____ii_____ desvantagem, obviamente. Uma
boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para _____iii_____
compra de um ar refrigerado de segunda mão: 3ele disse que o aparelho
era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai
a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado
um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o
conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a
vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo,
enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto
vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das
tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase:
"Até tu, Brutus?".
Bobo não reclama. Em compensação, como
exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem
estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos
que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda
criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. 4Os
espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. 5Bem-aventurados
os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que
saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais _____iv_____
pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas
Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em
Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço,
voando por cima das casas. É quase impossível evitar o excesso de amor que o
bobo provoca. É que só 6o bobo é capaz de excesso de amor. E só o
amor faz o bobo.
LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/.
Acesso em 10 de maio de 2017.
Originalmente publicado no Jornal do Brasil
em 12 de setembro de 1970.
Considere
as seguintes definições do “bobo” em comparação ao “esperto”, apontadas no
texto:
I. Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída (referência
1).
II. o bobo é um Dostoievski (referência 2).
III. Ser bobo é uma criatividade e, como toda
criação, é difícil (referência 4).
IV. Os espertos ganham dos outros. Em compensação
os bobos ganham a vida (referência 5).
V. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que
ninguém desconfie (referência 6).
Dentre
os pares de adjetivos abaixo listados, qual está em acordo com as definições do
“bobo” elencadas acima?
a) Sagaz - atento.
b) Rápido – vigilante.
c) Perspicaz - astuto.
d) Ágil - enérgico.
e) Sábio - engenhoso.
9. (Fuvest 2018) Sarapalha
–
Ô calorão, Primo!... E que dor de
cabeça excomungada!
–
É um instantinho e passa... É só ter
paciência....
–
É... passa... passa... passa... Passam
umas mulheres vestidas de cor de água, sem olhos na cara, para não terem de olhar
a gente... Só ela é que não passa, Primo Argemiro!... E eu já estou cansado de
procurar, no meio das outras... Não vem!... Foi, rio abaixo, com o outro...
Foram p’r’os infernos!...
–
Não foi, Primo Ribeiro. Não foram pelo
rio... Foi trem-de-ferro que levou...
–
Não foi no rio, eu sei... 1No
rio ninguém não anda... 2Só a maleita é quem sobe e desce, olhando
seus mosquitinhos e pondo neles a benção... Mas, na estória... Como é mesmo a estória,
Primo? Como é?...
–
O senhor bem que sabe, Primo... Tem
paciência, que não é bom variar...
–
Mas, a estória, Primo!... Como é?...
Conta outra vez...
–
3O senhor já sabe as
palavras todas de cabeça... “Foi o moço-bonito que apareceu, vestido com roupa
de dia-de-domingo 4e
com a viola enfeitada de fitas... E chamou a moça p’ra ir se fugir com ele”...
–
Espera, Primo, elas estão passando...
Vão umas atrás das outras... Cada qual mais bonita... Mas eu não quero, nenhuma!...
Quero só ela... Luísa...
–
Prima Luísa...
–
Espera um pouco, deixa ver se eu
vejo... Me ajuda, Primo! Me ajuda a ver...
–
Não é nada, Primo Ribeiro... Deixa
disso!
–
Não é mesmo não...
–
Pois então?!
–
Conta o resto da estória!...
–
...“Então, a moça, que não sabia que o
moço-bonito era o capeta, 5ajuntou suas roupinhas melhores numa
trouxa, e foi com ele na canoa, descendo o rio...”
Guimarães Rosa, Sarapalha.
No texto de Sarapalha, constitui
exemplo de personificação o seguinte trecho:
a) “No rio ninguém não anda” (ref. 1).
b) “só a maleita é quem sobe e desce” (ref. 2).
c) “O senhor já sabe as palavras todas de
cabeça” (ref. 3).
d) “e com a viola enfeitada de fitas” (ref. 4).
e) “ajuntou suas roupinhas melhores numa trouxa”
(ref. 5).
10.
(Ueg 2018) Observe
a imagem e leia o poema a seguir para responder à questão.
Um galo sozinho não tece uma
manhã:
ele precisará sempre de outros
galos.
De um que apanhe esse grito que
ele
e o lance a outro; de um outro
galo
que apanhe o grito de um galo
antes
e o lance a outro; e de outros
galos
que com muitos outros galos se
cruzem
os fios de sol de seus gritos de
galo,
para que a manhã, desde uma teia
tênue,
se vá tecendo, entre todos os
galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que,
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
MELO NETO, João Cabral de. Tecendo a manhã. Disponível em:
<http://www.jornaldepoesia.jor.br/joao02.html>. Acesso em: 24 ago. 2017.
O poema apresenta uma linguagem permeada de aliterações e assonâncias, o
que lhe confere mais musicalidade, ao passo que a pintura apresenta traços de
uma estética
a) expressionista
b) impressionista
c) fauvista
d) dadaísta
e) cubista
kd o gabarito?
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