1. (Fuvest 2017) Se
pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam.
Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era ao
mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da prefeitura.
Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa,
mas às vezes se arreliava. Não havia paciência que suportasse tanta coisa.
– Um dia um homem faz besteira e se desgraça.
Graciliano Ramos, Vidas secas.
Tendo em vista as causas
que a provocam, a revolta que vem à consciência de Fabiano, apresentada no
texto como ainda contida e genérica, encontrará foco e uma expressão coletiva
militante e organizada, em época posterior à publicação de Vidas secas, no movimento
a) carismático de Juazeiro do
Norte, orientado pelo Padre Cícero Romão Batista.
b) das Ligas Camponesas, sob a
liderança de Francisco Julião.
c) do Cangaço, quando chefiado
por Virgulino Ferreira da Silva (Lampião).
d) messiânico de Canudos,
conduzido por Antônio Conselheiro.
e) da Coluna Prestes,
encabeçado por Luís Carlos Prestes.
2. (Ufpr 2017) “E
não gostavas de festa... / Ó velho, que festa grande / hoje te faria a gente”.
Esses são os versos de abertura do poema “A Mesa”, parte integrante do livro Claro
Enigma, de Carlos Drummond de Andrade. Neles podem ser identificados alguns
elementos do poema, entre os quais o destinatário, um patriarca, a quem o eu lírico
se dirige ao longo de centenas de versos. A respeito de “A Mesa” e de sua
integração com outros poemas do mesmo livro, assinale a alternativa correta.
a) Numa festa de aniversário,
o eu lírico reapresenta ao velho pai as pessoas da família. Tristes e
nostálgicas, elas vão se dando conta de que o pai não as reconhece. É o que se
observa nos versos: “Aqui sentou-se o mais velho” e “Mais adiante vês aquele /
que de ti herdou a dura / vontade, o duro estoicismo”.
b) Na festa preparada para o
pai, o eu lírico observa a conversa barulhenta em torno da comida e,
inutilmente, tenta calar seus parentes, que trazem à mesa assuntos triviais,
perturbando a solenidade do reencontro. É o que se observa na repetição do
verso “(não convém lembrar agora)”.
c) Por meio dos versos “Como
pode nossa festa / ser de um só que não de dois? / Os dois ora estais reunidos
/ numa aliança bem maior / que o simples elo da terra”, o eu lírico se dirige à
mãe, convidando-a para se sentar à cabeceira da mesa, provocando uma discussão
entre o pai autoritário e a mãe submissa.
d) Na memória do eu lírico, o
pai se refere aos filhos cinquentões como se eles fossem meninos. Embora sugira
discordar do pai, o eu-lírico reconhece as contradições da condição de filho
adulto nos versos “e o desejo muito simples / de pedir à mãe que cosa, / mais
do que nossa camisa, nossa alma frouxa, rasgada”.
e) O soneto “Encontro” faz
referência a um pai, mas, como o pai está morto (“Está morto, que importa? /
Inda madruga / e seu rosto, nem triste nem risonho, / é o rosto antigo, o
mesmo. E não enxuga / suor algum, na calma de meu sonho”), o filho só o
encontra em sonho e na imaginação, diferentemente de “A mesa”.
3.
(Unifesp 2017) Nesta
obra, o autor optou por uma situação narrativa que se define pelo movimento de
aproximação e distanciamento da substância sensível da realidade retratada,
como forma de solidarizar-se com seus personagens e, ao mesmo tempo, sustentar
uma posição crítica rigorosa ante a “desgraça irremediável que os açoita”.
Relativiza, assim, a onisciência da terceira pessoa e reconstitui, pela via
literária, o hiato entre seu saber de intelectual e a indigência dos retirantes
– alteridade que buscou compreender pelo exercício artístico da palavra enxuta
e medida. Com a cautela de quem não se permite explicitar significados ou
avançar conclusões, o narrador condiciona a narração à expectativa dos
personagens, através do uso intensivo do discurso indireto livre, que dá forma
à sondagem interior pretendida e singulariza os destinos representados.
(Wander Melo Miranda. “Texto introdutório”. In: Silviano Santiago
(org). Intérpretes do Brasil, vol. 2, 2000. Adaptado.)
Tal comentário
aplica-se à obra
a) Morte
e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.
b) Os
sertões, de Euclides da Cunha.
c) Vidas
secas, de Graciliano Ramos.
d) Capitães
da Areia, de Jorge Amado.
e) Grande
sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
4.
(Ita 2017) O
romance Fogo morto, de José Lins do Rego, apresenta um amplo painel
social do interior paraibano no final do século XIX. Acerca das personagens, é
correto dizer que:
a) os
três principais senhores de engenho retratados são o Coronel Lula de Holanda, o
Capitão José Paulino e o mestre José Amaro.
b) o
Coronel Lula de Holanda, explorando os escravos e tomando as terras de José
Amaro, tornou-se o mais rico da Paraíba.
c) o
Capitão Vitorino é uma figura quixotesca, pois, mesmo ridicularizado pelo povo,
luta contra os desmandos das autoridades.
d) o
líder cangaceiro Antônio Silvino consegue, no final, acabar com a injustiça
praticada pelos senhores de engenho.
e) o
mestre José Amaro decide entrar para o bando de Antônio Silvino para se vingar
do Coronel Lula de Holanda pelo que ele lhe fez.
5. (Ufpr 2017) A
respeito dos romances Clara dos Anjos, de Lima Barreto, e Fogo Morto,
de José Lins do Rego, assinale a alternativa correta.
a) Clara dos Anjos é um romance
memorialístico, no qual os acontecimentos rememorados permitem compreender a
origem da família da protagonista; Fogo Morto é um romance intimista que
dá a conhecer a vida de um núcleo familiar aristocrático ao longo da década de
1930.
b) Os pontos de vista
narrativos desses romances diferem um do outro, porque, em Clara dos Anjos,
o narrador participa da trama como personagem, narrando acontecimentos de que
participou, enquanto, em Fogo Morto, o narrador é onisciente,
dedicando-se a investigar a alma dos personagens.
c) Nos dois romances, as
mulheres pobres não recebem educação formal e são submetidas a uma rotina de
violência familiar. Seu destino é o enlouquecimento, como acontece com Marta e
Neném em Fogo Morto, ou a insubmissão, como acontece com Clara dos
Anjos, que abandona a casa dos pais.
d) Nos dois romances, a
cultura popular aparece representada pela música, que agrada a diferentes
personagens: em Clara dos Anjos, a modinha aproxima Cassi Jones da
família de Clara; em Fogo Morto, as histórias cantadas por José
Passarinho ecoam o sofrimento dos personagens.
e) Nos dois romances,
observa-se a geografia suburbana, com favelas construídas em torno da linha
férrea, com aglomerados humanos miscigenados e também com o subemprego dos
personagens, como o carteiro Joaquim dos Anjos e o seleiro José Amaro.
6. (Espm 2017) A respeito da obra São Bernardo, de Graciliano
Ramos, o crítico literário e professor João Luiz Lafetá afirma:
Todo
valor se transforma – ilusoriamente – em valor de troca. E toda relação humana
se transforma – destruidoramente – numa relação entre coisas, entre possuído e
possuidor. Tal é a relação estabelecida entre Paulo Honório e o mundo. Seu
desenvolvido sentimento de propriedade leva-o a considerar todos que o cercam
como coisas que se manipulam à vontade e se possui.
O trecho de São Bernardo que melhor
exemplifica a análise do crítico literário é:
a) “Com efeito, se me escapa o
retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas
sou forçado a escrever.”
b) “Madalena entrou aqui cheia
de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos
esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo.”
c) “Bichos. As criaturas que
me serviram durante anos eram bichos. Havia bichos domésticos, como o
Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e muitos bichos para o serviço do
campo, bois mansos.”
d) “E a desconfiança terrível
que me aponta inimigos em toda a parte! A desconfiança é também uma
consequência da profissão.”
e) “A culpa foi minha, ou
antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.”
7. (Puccamp 2017) Importa questionar como estabelecer critérios de
valor estético e de definição do belo em tempos sombrios, no século XX. Em Crítica
Cultural e Sociedade, Theodor Adorno expôs que “escrever um poema após
Auschwitz é um ato bárbaro” (Adorno, 1998, p. 28). A afirmação se refere ao
estatuto da produção poética em um contexto que não abarca mais condições viáveis
para o estado contemplativo, intrinsecamente associado à poesia lírica em
vários autores, fundamentais para a produção do gênero. Na era dos extremos, há
necessidade de um estado de permanente alerta, em que as condições de
integração ao relacionamento social foram abaladas e, em muitos casos,
aniquiladas pela guerra, pela mercantilização e pelo aumento das intervenções
violentas dos Estados na vida social. Permitir-se a contemplação passiva após
Auschwitz significa, em certa medida, naturalizar o horror vivido, esquecê-lo
ou trivializá-lo. A banalização dos atos desumanos praticados nos campos de
concentração, associada à política de esquecimento exercida em diversos
segmentos da educação e da produção cultural, é a legitimação necessária para
que eles se repitam constantemente.
GINZBURG, Jaime. Crítica em tempos de violência. São Paulo: Edusp/FAPESP, 2012, p.
460.
Às voltas com critérios de valor estético e de definição
do belo em tempos sombrios, Carlos Drummond de
Andrade escreveu estes versos, ao tempo da II Guerra:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas,
alucinação e espera.
O tempo pobre, o
poeta pobre
fundem-se no mesmo
impasse.
São versos que deixam ver
a) a desconfiança dos feitos
heroicos.
b) a melancolia amorosa da
alta maturidade.
c) a retomada do estilo das
epopeias clássicas.
d) a confissão de uma timidez
angustiante.
e) o reconhecimento dos
limites da poesia.
8. (Unifesp 2005) Observe a figura a seguir:
A
tela de Portinari - A criança morta - tematiza aspecto marcante da vida no
sertão nordestino, frequentemente castigado pelas secas, pela miséria e pela
fome. Os escritores que se dedicaram também a esse tema foram:
a) Graciliano
Ramos e José de Alencar.
b) Hilda
Hilst e Jorge Amado.
c) Rachel
de Queiroz e João Cabral de Melo Neto.
d) José
Lins do Rego e Carlos Drummond de Andrade.
e) Guimarães
Rosa e Cecília Meireles.
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