1.
(Espcex (Aman) 2016) Leia o trecho do conto O Peru de Natal e responda.
“O nosso primeiro Natal em família, depois
da morte de meu pai, acontecida cinco meses antes, foi de consequências
decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes,
nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem
brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente
à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma
exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele
aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom,
uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um
bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
Morreu meu pai sentimos muito, etc. Quando
chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar
aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a
obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto da família...
A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara
apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por
espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.
Foi decerto por isso que me nasceu, esta
sim, espontaneamente, a ideia de fazer uma das minhas chamadas “loucuras”. Essa
fora, aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente
familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava
regularmente uma reprovação todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa
prima, aos dez anos...eu consegui no reformatório do lar e vasta parentagem, a
fama conciliatória de “louco”. “É doido coitado!” (…)
Foi lembrando isso que arrebentei com uma
das minhas “loucuras”:
– Bom, no Natal, quero comer peru.
Houve um desses espantos que ninguém não
imagina.”
Nesse fragmento, o universo ficcional
constitui
a) o ponto de vista externo do
narrador, que valoriza a célula dramática das novelas românticas.
b) característica da primeira
geração modernista, que repudiava o conservadorismo.
c) a temática da prosa de
costumes, enaltecendo a primeira geração romântica.
d) uma temática nacionalista
ao exaltar o conservadorismo.
e) a valorização do sistema
patriarcal.
2. (Unicamp 2016)
Pobre alimária
O cavalo e a carroça
Estavam atravancados no
trilho
E como o motorneiro se
impacientasse
Porque levava os advogados
para os escritórios
Desatravancaram o veículo
E o animal disparou
Mas o lesto carroceiro
Trepou na boleia
E castigou o fugitivo
atrelado
Com um grandioso chicote
(Oswald de Andrade, Pau Brasil. São Paulo: Globo, 2003, p.159.)
A imagem e o poema revelam
a dinâmica do espaço na cidade de São Paulo na primeira metade do século XX.
Qual alternativa abaixo
formula corretamente essa dinâmica?
a) Trata-se da ascensão de um
moderno mundo urbano, onde coexistiam harmonicamente diferentes temporalidades,
funções urbanas, sistemas técnicos e formas de trabalho, viabilizando-se, desse
modo, a coesão entre o espaço da cidade e o tecido social.
b) Trata-se de um espaço agrário
e acomodado, num período em que a urbanização não tinha se estabelecido, mas
que abrigava em seu interstício alguns vetores da modernização industrial.
c) Trata-se de um espaço onde
coexistiam distintas temporalidades: uma atrelada ao ritmo lento de um passado
agrário e, outra, atrelada ao ritmo acelerado que caracteriza a modernidade
urbana.
d) Trata-se de uma paisagem
urbana e uma divisão do trabalho típicas do período colonial, pois a metropolização
é um processo desencadeado a partir da segunda metade do século XX.
3. (Unicamp 2016) Leia o poema “Mar
Português”, de Fernando Pessoa.
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do
teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas
mães choraram,
Quantos filhos em vão
rezaram!
Quantas noivas ficaram por
casar
Para que fosses nosso, ó
mar!
Valeu a pena? Tudo vale a
pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do
Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o
abismo deu,
Mas nele é que espelhou o
céu.
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/fpesso03.html.)
No poema, a apóstrofe, uma
figura de linguagem, indica que o enunciador
a) convoca o mar a refletir
sobre a história das navegações portuguesas.
b) apresenta o mar como
responsável pelo sofrimento do povo português.
c) revela ao mar sua crítica
às ações portuguesas no período das navegações.
d) projeta no mar sua tristeza
com as consequências das conquistas de Portugal.
4. (Ufrgs 2016) Leia o poema abaixo,
presente em Mensagem, de Fernando
Pessoa.
Noite
A nau de um deles tinha-se
perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao
Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em
procura
Do irmão no mar sem fim e a
névoa escura.
Tempo foi. Nem primeiro nem
segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por
quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei
rogou
Licença de os buscar, e
El-Rei negou.
Como a um cativo, o ouvem a
passar
Os servos do solar.
E, quando o veem, veem a
figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de
ânsia
Fitando a proibida azul
distância.
Senhor, os dois irmãos do
nosso Nome
— O Poder e o Renome —
Ambos se foram pelo mar da
idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser
de herói.
Queremos ir buscá-los,
desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na
distância
De nós; e, em febre de
ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que
partamos.
Considere as seguintes
afirmações sobre o poema e suas relações com o livro Mensagem.
I. As três primeiras estrofes
estão relacionadas a um episódio real: a história dos irmãos Gaspar e Miguel
Corte Real que desapareceram em expedições marítimas, no início do século XVI,
para desespero do terceiro irmão, Vasco, que queria procurá-los, mas não obteve
a autorização do rei.
II. O sujeito lírico, na
quarta e na quinta estrofes, assume a primeira pessoa do plural, sugerindo que
o drama individual dos irmãos pode representar um problema coletivo: a perda de
poder e renome de Portugal, perda esta já associada à difícil situação do país
no início do século XX, momento da escritura do poema.
III. O diagnóstico das
perdas de Portugal está ausente em outros poemas de Mensagem, por exemplo, Mar
português, Autopsicografia e Nevoeiro, que apresentam a visão
eufórica e confiante do sujeito lírico em relação ao futuro de Portugal.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
5. (Ufrgs 2016) Assinale a alternativa
correta a respeito da vida e da obra do poeta português Fernando Pessoa.
a) Pessoa foi um dos líderes
da revista de literatura Orpheu,
juntamente com Mário de Sá-Carneiro e Eça de Queiroz.
b) A criação da revista de
literatura Orpheu identifica Pessoa
como um dos fundadores do Modernismo português.
c) Pessoa foi responsável pelo
espírito derrotista, em que Portugal estava mergulhado no final do século XIX.
d) Os heterônimos de Pessoa,
tais como Álvaro de Campos e Ricardo Reis, podem ser vistos como pseudônimos,
utilizados pelo poeta para burlar a censura.
e) A criação de heterônimos é
uma prática comum aos poetas colaboradores da revista Orpheu.
6. (Unifesp 2016) Uma análise mais atenta do
livro mostra que ele foi construído a partir da combinação de uma infinidade de
textos preexistentes, elaborados pela tradição oral ou escrita, popular ou
erudita, europeia ou brasileira. A originalidade estrutural deriva, deste modo,
do fato de o livro não se basear na mímesis, isto é, na dependência constante
que a arte estabelece entre o mundo objetivo e a ficção; mas em ligar-se quase
sempre a outros mundos imaginários, a sistemas fechados de sinais, já regidos
por significação autônoma. Esse processo, parasitário na aparência, é no
entanto curiosamente inventivo; pois, em vez de recortar com neutralidade nos
entrechos originais as partes de que necessita para reagrupá-las, intactas,
numa ordem nova, atua quase sempre sobre cada fragmento, alterando-o em
profundidade.
(Gilda de Mello e Souza. O tupi e o alaúde, 1979. Adaptado.)
Tal comentário aplica-se ao
livro
a) A cidade e as serras, de Eça de Queirós.
b) Macunaíma, de Mário de Andrade.
c) Memórias de um sargento de
milícias,
de Manuel Antônio de Almeida.
d) Memórias póstumas de Brás
Cubas, de
Machado de Assis.
e) Iracema, de José de Alencar.
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